Eu tenho 15 anos e outros 15.002 sonhos pra realizar!!!"

"A adolescência é o período da vida em que os jovens se recusam a acreditar que um dia virão a ser tão estúpidos como os pais."

(Alex Gabriel Madrigal)





































Bom, eu queria um motivo muito forte pra escrever algo sobre a adolescência. Isso depois que li um comentário, ao meu ver, extremamente infeliz, de um certo colunista que acompanho com alguma frequência, acerca dos adolescentes amantes da série vampirística de Stephanie Meyer, escritora norte-americana que assina seus quatro volumes (considerados best-seller) como romance, por conta do lançamento do 4º filme da série "Amanhecer", este que será dividido em duas partes.

Talvez eu também tenha me excedido na sensação de não ter aprovado o discurso do jovem e competente jornalista que escreve sobre literatura e cinema, mas acho que a neutralidade é sempre muito elegante e bem vinda nesses casos, e crítica necessita de visão caleidoscópica para ter reconhecimento. Enfim, de repente bateu a vontade de dizer algo também, mas desse lugar que me cabe, como conhecedora desse fórum com certa intimidade por ser mãe e educadora de muitos deles.

Saiba-se que cada um diz o que quer nessa terra brasilis, responsabilizando-se por seu pronunciamento. Por isso assino esse comentário pessoal com nome e sobrenome.

O colunista exagerou sustancialmente no "caldo" quando nivelou os milhares de adolescentes fãs da obra literária em questão, metafoticamente, a alienados enredados numa trama ficcional frágil, enganadora e exarcebada de efeitos que ferem a mitologia universal sobre o tema (como se muitos deles não tivessem também essa análise sobre o assunto!). Adolescentes e jovens "moradores das nuvens" passíveis de uma intervenção adulta que seja capaz de apontar-lhes com clareza o que devem ler, do que devem gostar, o que precisam conversar, o que podem ou não senti e por quem fazê-lo, o que é bom ou não alimentarem no seu imaginário criativo. Como sempre os adultos fizeram, desde que mundo é mundo, em todos as eras e sociedades pelo mundo a fora.

Pois bem, encontrei minha causa.

Estive no teatro Cláudio Barradas neste sábado, 19, com minha filha de 14 anos e meu sobrinho de 15 anos assistindo ao espetáculo dos adolescentes do curso livre de teatro infanto-juvenil proposto como resultado de final de curso, encontrando nele, finalmente, a motivação para escrever sobre eles do jeito que eles merecem ser tratados: como uma comunidade pensante..

A montagem intitulada O despertar da primavera, texto clássico do alemão Frank Wedekind, adaptado pelo jovem, curioso e competente dramaturgo paraense Guál Dídimo, com direção da renomada Profa. Dra. Olinda Charone, também diretora, atriz e educadora de crianças e adolescentes, apresenta justamente o que eu procurava organizar como idéia motriz por reunir as motivações dos adolescentes e seus conflitos, sonhos e as imposições na realidade do século IX, o que se vê refletida, ainda hoje, nas diferentes camadas sociais desta sociedade que ainda precisa ser alfabetizada no trato com esses que já não mais se assinam crianças, nem tão pouco podem ser classificados como adultos, pela natureza de sua pecualidade infanto-juvenil.

A montagem cênica desses 24 atores (não tenho claro se este é o numero exato do elenco) entre meninos e meninas comuns- alguns deles, quem sabe, leitores dos romances de que trato aqui- é o resultado de um trabalho meticuloso e comprometido realizado no Curso Livre de Teatro Juvenil da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA) no ano de 2011, apresentado até hoje, 20/11 no Teatro Universitário Cláudio Barradas, em Belém/ PA, em duas sessões: às 18h e às 20h.

Abusos, violência contra a mulher e a criança, depressão, abandono, morte, sexualidade adolescente, vinculos familiares, laços fraternais de amizade, ética e moral, desinformação, afetividades, escola dissociada da vida e negligência com essa faixa etária são assuntos tratados com uma métrica poética que há muito não se presencia em nossa cidade, considerando a fase de formação pela qual passam os atores e atrizes em questão.

Por este trabalho, pela conversa que fui tecendo com miha filha e sobrinho ao saírmos da sala de espetáculos, pelos diálogos que tenho travado com os adolescentes e jovens com os quais cruzo nessas jornadas de formação pedagógica e artística, não poderia deixar de parabenizar o elenco (em especial!), os diretores, os técnicos, os músicos Armando de Mendonça e Luciano Lira (Que sonoplastia privilegiada e maravilhosa! Que letras e arranjos tão bem compostos são esses?!rr) pelo excelente trabalho que nos deram a conhecer e por nos emocionar como o fizeram nessa montagem.

Riso e drama misturam-se numa matéria única, formando um cenário recorrente no qual é possível ler as entrelinhas daquilo que vivemos um dia e não tivemos coragem de expressar, de traduzir, o que eles como ninguém assumiram fazer em nosso lugar de forma disponível e generosa em suas atuações , devolvendo-nos o tempo, as indagações e as indignações de outrora.

Com que surpresa e alegria eu soube que a exigência pela densidade do trabalho cênico e por um texto forte que expressasse temas polêmicos como estes partiu deles!

Há vida inteligente e útil na adolescência e há potencialçidade criativa em tudo que eles ousam realizar quando tem envolvimento afetivo em jogo. Só não vê quem não quer ver.

Aos pais, educadores, adultos de uma forma em geral, artistas, gestores, críticos de arte, inclusive, cabe acompanhá-los nisto que eles tem sinalizado como demandas desses tempos presentes em que estão lutando para se firmarem como uma clientela que tem seus próprios gostos e, portanto, fará suas próprias escolhas, no tempo hábil, que eles mesmos determinarem para si. Diálogos precisam fazer parte dessa relação onde ambos, adultos e adolescentes, tem a trocar e aprender uns com os outros, desde que dispostos para tal com total abertura. E esse canal precisa ser aberto por nós, os adultos da relação!

As fotos tiradas freneticamente nos banheiros das escolas, as paradas sucessivas diantes dos inúmeros espelhos pelos quais passam e repassam infinitas vezes, o retoque no cabelo, o excesso de cores e o gel pra definir o penteado "estranho", as unhas e as roupas ora escuras, ora coloridas por demais; os livros, os hits musicais, os filmes estranhos e as redes sociais como tumblr e twitter estão sendo abastecidos a todo instante, recheadas de coisas que eles teimam dizer requerendo a nossa atenção e a gente finge não notar e muito menos querer (re) conhecer como tribos das quais muitos deles participam, longe da nossa aprovação (algumas delas bem prejudiciais para eles, como tão bem sabemos.) Mas como poderemos fazer uma intervenção oportuna se não estivermos por perto e não tivermos a sua confiança por aliada?!)

Até quando vamos educá-los pelo "Não pode!", ao invés de discutirmos com eles temas variados de seus interesses, o ônus de fazer determinadas escolhas, as consequências que os atos impensados cobram da gente, muitas delas sem retorno, que igualmente serão cobradas deles. Em esperar o tempo que passa devagar, a dois, confortando-os nessa pressa que eles tem, essa pressa incontrolável de devorar o mundo numa única dentada!

Essa geração, como as demais por certo, sobreviverá aos 'vampiros que brilham a luz do sol' e outras causas que hoje julgamos patetices, da mesma forma como nós sobrevivemos a era Rainha dos baixinhos, a geração Menudo e outros movimentos que especialistas julgaram capazes de nos afetar intelectual e afetivamente profundamente, à época.

Para fazer escolhas os adolescentes e jovens precisam ter alternativas. Para que elas se apresentem precisamos permitir-lhes o livre arbítrio a essas opções, claro,sempre sob nossa tutela amorosa, permitindo-lhes as informações e o conhecimento capaz de assegurar-lhes uma escolha acertada em cada situação que se mostre nova. A nossa presença ao seu lado quando não conseguirem ir por si mesmos é o que eles precisam contar todos os dias. Afinal de contas é para isso que estamos aqui.

Chorar e errar fazem parte dos aprendizados que terão que fazer sobre a vida. Mas isso também pode (e deve!) ser compartilhado por nós.

...

Na saída do teatro, uma pergunta da Roberta cristaliza meu pensamento:

"- Mãe, porque eu não deixei de ser criança e pulei logo pra fase adulta, hein?- seguida de um riso leve e sereno de canto de boca.

Ao que respondi com tranquilidade de quem sabe bem do que ela está falando:

"Filha, porque Deus é bom com a gente e a natureza é sábia, não dá saltos..." -seguido de um cheiro na ponta do nariz, como fazia frequentemente quando ela era menor.

...

Há muitos o que aprender com os adolescentes... comecemos por despertar a primavera que há em cada um de nós!

Evoé ao teatro jovem que se levanta na cidade!

Rosilene Cordeiro (Atriz, pedagoga, mãe e amiga de muitos adolescentes e jovens)

Crédito das imagens:

Foto 1: Divulgação

Foto 2: Adhara Belo

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