INSULADA, mergulhos virtuais.






 
Lançamento do Catálogo Virtual INSULADA
 
 
 
 
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Não é apenas a zona continental da cidade de Belém-PA, com seus 173,78 km, representante dos 34,36% de sua área geral, que atrai o gosto e interesse por investigações experimentais corporeo-sensoriais no campo da performance. Em se tratando dessa pesquisa é justamente o seu território insular, distribuído em 39 ilhas, portanto 65,64% dessa área total que despertou nossa intenção de trabalho proposto e selecionado NO PRÊMIO DE EXPERIMENTAÇÃO, PESQUISA E DIFUSÃO ARTÍSTICA DA FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DO PARÁ - SEIVA 2016, da Fundação Casa das Artes. 
 
Localizadas em uma área intermediária do estuário amazônico, essa área de transição entre a água doce (ao sul da Baía de Guajará e à direita do Rio Guamá) e a água salgada (ao norte de Belém na altura da cidade de Colares) encontram-se a Ilha de Cotijuba, Ilha das Onças e Ilha do Combu, caracterizadas por rios, canais de maré (“igarapés”), florestas, várzeas, baías, campos alagados e praias pouco exploradas pelo ‘estrangeiro’ visitante. Ilhas nas quais as populações nativas e/ou ribeirinhas de tradição são a maioria dos povos habitantes da mata e da beira, vivendo principalmente do extrativismo e da pesca, se inserindo na economia local principalmente como fornecedora de produtos primários. 
 
Mas não apenas de agricultura, turismo, pesca artesanal e uma vida pouco impactada pelo vício urbano vivem essas regiões: as ilhas configuram, primordialmente, lugares de convívio com dinâmica própria, lócus de afetos, relação biunívoca seres humanos-vegetais-animais-elementais, magia em estado bruto, conexão astral entre elementares, olhos d’água a nos acorrentar para dentro de si.
Então esse é um dado importante para a abertura do projeto “INSULAR: o ato de se transformar em ilha”: Abrir-se ao ambiente, deixar-se tocar por ele para circundar aquilo que, por inúmeros e urbanos motivos, nos inclinou aos holofotes da cidade em detrimento das luzes que hoje inundam nosso olhar com a liquidez que banha nossos corpos, com o sol que tinge nossa pele e cabelos com as cores do ar, do céu, das águas, a terra, a lama, do fogo obtido no contato dessas penetrações de retorno, nos fazendo suar e ativando nossa fome, nossa fome, nosso desejo criativo. 
 
Nós afro-indígenas amazônidas, negríndios, paraenses, batizados na piedade de nossos ancestres seres da encantaria cabocla amazônica de “afagos à beira rio” (na voz de um certo poeta) espraiados nos demais espaços onde foi possível chegar.
 
Um ato artístico gerando outra subdivisão importante: essas ações ocorrem quando nossa pesquisa adentra a discussão da nossa própria porção sensível-geográfica de artistas territorializados dessa região, revisitando essa nossa porção insular interna e particular, alterando nossos corpos coletivamente, potencializando os sentidos, nossas percepções humanas e estéticas, atravessando nossas experiências cotidianas, nas relações com essa nossa cidade urbano-fluvial que nos envolve e encanta em tudo que somos e nos tornamos na relação com esta arte que desenvolvemos a que denominamos performance
 
Sentimo-nos, então, no desejo múltiplo e exponencial de compartilhar a natureza em entrelaçamentos: com seus seres aquáticos-terrestres-aéreos pensantes; erveiros-bichos do mato correndo de nós mesmos; matas abertas dentro de florestas intocáveis do que estamos a buscar no mundo; gentes-rios em mutação entre vazante e cheia, alternando-se, eu diria, por inúmeras existências e em ininterruptas gerações sempre em estado cíclico. Seres em ininterrupta evolu(A)ção, flechados e capturados pela arte, reanimados pela vida em seu status natural. 
 
Então o que temos agora são apenas pedaços, fragmentos, desvios colados, mosaico residuais dessa passagem breve,, efêmera virtualidade por essa vivência vital numa instalação performativa sensorial, entre corpos, objetos e paisagens naturais, capturadas em áudio, vídeo e imagens, entre sons, texturas, papel e tecido nos remetendo às representações dessas relações que ora se apresenta ao corpo sem que nunca tivesse sido interrompida nele, apesar de nosso afastamento cronológico. 
 
Então bem vindos e bem vindas, ao nosso corpoambiente habitado, habitando-nos, às margens e profundezas de nossas intimidades de percurso, ao nosso envolvimento afetivo, sensível, ético, poético e político nesses meses de trabalho. Adentrem esse ato (altar) de solidariedade, que se deseja generoso nesse compartilhamento. Um ato de querer bem, de cuidar, de si e dos outros, uma tela em abertura interna nos lançando como redes pra fora das canoas em que inúmeras vezes naufragamos em poesia, gerando a maresia do entorno (antes de tudo o nosso). 
 
Um trabalho de volta para casa.
 
E no balanço da proa dessa canoa memorial entre uma e outra maresia, árvores adiante, sinal de terra firme pela frente e um outro grito de chegada em coro: “Encantarias à vista! Tiremos as sandálias dos pés, porque o chão que pisamos SANTO É.”
 
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INSULADA - O Ato de se transformar em ilha
Convite para participação em atividades: dias 13/01/2017 (sexta) e 14/01/2017 (Sábado) Dia 13: IN FUsão Dia 14: FISSURA
hora: 20h às 22h

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