O CÍRIO DE NAZARÉ PELO OLHAR DAS PRINCIPAIS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS.

Reportagem e Fotos: Tainá Oliveira
  (http://olharmulti.blogspot.com.br/2014/10/o-cirio-de-nazare-pelo-olhar-das.html)


     O auto do Círio é uma manifestação da cultura local que reúne elementos artísticos. É uma mistura de teatro, carnaval, religiões que caminham em cortejo a Nossa Senhora de Nazaré pelas ruas do bairro da Cidade Velha. O Auto faz parte da programação do Círio e nesse ano completou 20 anos, cujo tema foi “Maria de Todas As Artes”.
 
    Em frente a igreja de Nossa senhora do Carmo, na Travessa Dom Bosco, pouco antes de começar o Auto do Círio, um grupo iniciava as suas apresentações: uma mulher era vestida com uma saia rodada cheia de enfeites por uma senhora mais idosa, havia oferendas no chão e um homem tocava tambor, o ritmo contagiava os outros integrantes e assim homens e mulheres dançavam e festejavam num ritual de Candomblé.
    Corpo Sincrético é o nome do grupo de pesquisa cênica, que fez essa apresentação, e tem como proposta o trabalho artístico cujo enfoque é o sincretismo religioso da Amazônia mestiça. 
 
     A idealizadora do projeto Rosilene Cordeiro, atriz e pedagoga pela UFPA, conta que no começo o grupo reunia sete pessoas, entre elas um babalorixá, líder espiritual do candomblé, hoje, o grupo é formado por pessoas abertas ao diálogo religioso “temos católicos praticantes e simpatizantes, umbandistas, espiritualistas, agnósticos, místicos, entre outros, de uma forma em geral. O que nos interessa não é mostrar uma religião, mas a religiosidade que está cravada no seio da vida das pessoas, uma manifestação cotidiana que ultrapassa as fronteiras conceituais e dogmáticas.”, explica Rosilene. 
 
    Essa mistura de religiosidades combinou com o Auto do Círio, porém o grupo não tem relação direta com o círio como ato religioso, mas o trabalho abarca a dimensão cultural da cidade. “O círio é a cidade, e a cidade é o círio em outubro, não há como fugir disso. E quer uma manifestação de fé mais sincrética que o círio de Belém?”, comenta Rosilene.

Sincretismo entre Candomblé e Catolicismo. 

O Candomblé, diferente da Umbanda, veio trazido pelos escravos da África, e o a mistura dessas duas religiões deve-se ao fato de que no tempo da colonização era imposto aos escravos africanos o batismo e a catequese ao catolicismo, esses não entendiam nada da nova religião e como forma de repressão simulavam praticar o catolicismo, mas na verdade continuaram praticando o Candomblé e difundindo assim os seus deuses com o santos católicos, entre outros ritos.

O surgimento da Umbanda.

Ao conversar com a historiadora da UFPA Alanna Souto, ela informou que a Umbanda é uma religião que nasceu em solo brasileiro, mais precisamente em Niterói no Rio de Janeiro. A pesquisadora disse ainda que a Umbanda “é sincrética em sua concepção por beber em variadas vertentes espirituais, do catolicismo, espiritismo, esoterismo, a cultura afro, o budismo, o povo cigano e até mesmo a cabalá para alguns umbandistas.”.

Conexão do Catolicismo com a Umbanda.

  Alanna explicou que “Catolicismo e umbanda não há semelhança em si. Na verdade a Umbanda por ser uma religião universalista colhe alguns aspectos do catolicismo na prática de orações e no culto de santos ao associarem aos Orixás, apenas nesse sentido.”.
   
  Pois, através da história houve uma aproximação na semelhança dos orixás com santos católicos, e podemos citar os mais famosos, como: São Jorge a Ogum, Santa Barbara a Iansão, São Sebastião a Oxossi, Nossa senhora da Conceição a Iemanjá e por fim a Nossa senhora de Nazaré a Oxum, Alanna conta que “Oxum foi associado a Nossa Senhora de Nazaré, assim como a maioria das santas Marias pela sua característica maternal, de harmonia, cuidado diante de suas crias, de nós criaturas humanas”. 
 
      E completou: “A influência do catolicismo na umbanda encontra-se no uso, dependendo do templo, pois a umbanda não é uma religião institucional, não possui um Vaticano para dar ordem e nem uma bíblia a seguir, logo cada templo é uma tribo com seu cacique, digamos assim.”.

    A Umbanda, diferente do que muitos pensam é uma religião monoteísta, ou seja, acredita em um único Deus, e seus orixás são emanações provenientes desse criador.A historiadora lamenta que a maioria dos cristãos, tanto do catolicismo e protestantismo, renegam a Umbanda e as religiões afro-brasileiras, pautados numa série de preconceitos e tabus fruto de uma intolerância colônia eurocêntrica há mais de 500 anos no Brasil.

      Contudo, a relação dos Umbandistas assim como os praticantes do Candomblé é harmônica quando chega o mês de outubro no Pará e temos a maior manifestação de fé e gratidão a nossa senhora de Nazaré, e eles comungam desse rito de fé católica com muita devoção.  

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