"Ri Rô Ewá!"

















[...] À beira do precipício desponta uma moça que sonha de olhos abertos, tão moça como o tempo que a reservou para a festa. 
Menina sem tréguas, corredora entre as feiras e matas ao redor da cidade presenta-se guardada, estranhamente, numa jovialidade sem cura, seguida por um ou vários cachorros que latem a sua ardente passagem quase sempre noturna. 
Segue indelével e arredia, ladeada por guardiões de honra casta. Porque assim ELA os quis.
Caminha guiada pela intuição arquitetada pelos lanhos do sol, por enquanto, ainda ofuscada pela dor. 
Segue alva, de branco como branca resplandece quando refletida à luz da lua clara que dadivosa empresta-se ao coito celestial que a aguarda, criança-noiva que a ancestralidade a fez.
De passo em passo nessa travessia abre-se em flor arregalada pelas hastes do mundo ávido por engoli-la num só fluxo. O mesmo fluxo que antes falhou e hoje retornou como presságio de rito, rito de presságio.
Da anciã incólume recebeu a benção de seguir adiante...o rabo como se esperava é pontiagudo e escorregadio afinal, de tudo fugiu, de tudo se negou, de tudo extraiu a negação de si em detrimento desse hoje que já parece ido.


Alça-se, ela, ao sol como raio que deseja a queima em alta temperatura...o corpo fraqueja em adiante e aguardo. 
O vestido na cama graceja ante o colo que o veste enquanto recebe as fitas coloridas que anseiam os seios guardados em dormente dúvida.
Desconhece se estarão lá quando o casamento se der. 
O cabelo corta-se em pequenos pedaços e parte ligeiro sem olhar pra trás. 
Da cabeça emerge um ce[N]tro como chifre de unicórnio traseiro a apontar-lhe o leito onde deverá lavar os pés para a entrada definitiva no átrio das sacerdotisas irmãs. 
Corpo Celeste que é abre-se como gomo e unta-se com aromas, água purificada, oferendas e preces eliminando as feridas que o tempo tratou de deixar. Marcas símbolos de que a hora chegou. É hora de conhecer a casa de seus avós!
......
Os sapatos ficam do lado de fora...o contato com a terra é eminente. 
Um corpo vai ao chão, gritos de alegria são ouvidos desse mesmo fora.
"Era dia ainda pouco!"
......

Os moços podem entrar. Tímidos entram, sentam e aguardam as orientações da musa-mãe para a celebração afinal.
Cada vez mais próxima do dia o rabo treme, chocalhando ritmos cantados dos pontos de entrada como dantes em algum lugar da África que ficou lá atrás. 
Um a um os irmãos do panteão vai chegando, como convidados de honra nenhum é esquecido!
......
Ogum abre a gira. Exu não deixa por menos, cuida do resto.
Mamãe Oxum traz as rosas cor de rosas banhadas em água doce.
Quando ela chega nada é como dantes, tudo se desfaz, todo novo se refaz.
Tomem assento:

SILÊNCIO!
.....
El[W]Á chegou...está entre nós.


(Por Rosilene Cordeiro, junho de 2013. Arquivo virtual)

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